segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Raiva

O ócio faz de mim temerosa, temerosa por saber que um dia, mesmo sem emprego, posso ir na rua e alguém precisar de mim. O ócio dá-me tempo suficiente para pensar nas responsabilidades que a minha profissão acarreta. O peso dessa responsabilidade, para mim, é tão grande, que ainda hoje, volvidos uns 5 meses, ainda me sinto aluna. Parece não soar bem a melodia da palavra profissional...ou talvez seja apenas e tão só, o medo.
Tudo isto me faz sentir Humana, e por ter um coração tão grande, sofro com as pequenas cenas tristes de um filme, em que um velhinho sofre ou uma criança cresce sem amor.
Mas a raiva a que me refiro, advém não da minha responsabilidade enquanto profissional, não da minha humanidade, não da minha bondade. Surge quando ao desfolhar as páginas do jornal, entre aquele cheiro particular e sua textura desconfortável, leio acerca de mães que afogam bebés em ribeiras, de pais, jovens pais, que esbofeteiam, pontapeiam, matam bebés de 6 meses ou isso. Essas coisas, que me fazem ter medo de perder aqueles que amo, por estupidez de alguém. Essas coisas que me fazem ir na estrada, como passageira, atenta a tudo o que acontece, temendo que uma alma desenfreada faça aquilo que tantas vezes vemos fazerem a outros. E é nesses momentos que sinto raiva, raiva por não compreender o Homem, e a sua capacidade para ser tudo aquilo que não deveria.
Hoje, ao ler a notícia sobre esse pai que matou o seu próprio bebé, olhava para a fotografia da criança colocada na notícia de falecimento, e imaginava como será sermos agredidos sem sequer termos ainda aprendido a mastigar, a falar, a andar, sem termos sequer dentes para de alguma forma nos defender de quem nos ataca. Não consegui deixar de pensar em como o sorriso do meu sobrinho que me apoquenta o coração, com receio de que algum dia, alguém lho possa roubar.

Lia, também hoje, Pedro Abrunhosa que, quando questionado sobre se considera que Deus não existe, respondia ser impossível afirmar isso, quando tantas pessoas vivem com Deus no coração e têm fé. Realmente, não somos ninguém para dizer que algo não existe. E eu...eu que sempre tive a minha fé, não resisto, nestes momentos, a questionar-te Senhor: "Onde estavas Tu?".

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